quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O a. N. e o d. N. no São Paulo e as lições ainda a serem aprendidas

por Lucas Ribeiro

Em julho passado Ney Franco era anunciado como o novo técnico do São Paulo. A notícia, para quem esperava Paulo Autuori, Jorge Sampaoli e até europeus de qualidade duvidosa, caso de Alberto Malesani, caiu como uma bomba. O bem-sucedido treinador da seleção sub-20 (hoje treinada por Alexandre Gallo, que, depois de credenciado por um bom trabalho no Náutico, trabalho este aliado ao forte fator campo dos Aflitos, tenta se firmar como um nome dos mais cobiçados à função no país) parecia pouco para quem assumia a vaga de um gigante à beira de um colapso. 

Contudo, apesar de tropeços iniciais (o empate com o Palmeiras por 1 a 1, depois de estar vencendo e com um jogador a mais, e a derrota para o fraquíssimo Atlético Goianiense, que chegou a fazer 4 a 1 no Tricolor em meia hora de jogo), Ney Franco, aos poucos, deu cara ao clube. Se estes reveses aconteceram, em muito podemos responsabilizar Émerson Leão, que, em quase um ano, nunca foi capaz de dar um padrão definitivo ao time. Ou, indo mais longe, os danosos trabalhos geridos por, primeiro, Paulo César Carpegiani e, segundo, por Adílson Batista,  criadores de, em quase todos os clubes que trabalham, verdadeiros "carrosseis holandeses" às avessas. 

Com Franco, jogadores que gozavam de prestígio junto a seu antecessor mas limitados tecnicamente, como Cícero e Maicon, perderam espaço. Ao perceber que, com Lucas e Osvaldo, o trunfo do time era a velocidade, passou a escalar como titular o camisa 17, um que com Leão não tinha vez. Jogadores como Denílson e Jádson, assim, passaram a brilhar e Luís Fabiano, a fazer mais gols. A prova de fogo do treinador foi a partida de ida das quartas-de-final da Copa Sul-Americana, diante da Universidad de Chile, quando, na casa do forte adversário, deu um nó tático no favorito a assumir seu posto, Sampaoli, e foi o principal artífice de um soberbo 2 a 0. 

A chegada de Paulo Henrique Ganso, além de ter sido um trunfo da diretoria, como já explicado em outro post, também fez o camisa 10 são-paulino crescer de produção, pressionado por uma concorrência de peso. Em 2013, o time já cumpriu sua mínima obrigação: assegurou vaga na fase de grupos da Libertadores, depois de bater o frágil Bolívar. Contudo, se continua elogiado no Morumbi, Ney deve tentar evitar o que aconteceu ontem, no jogo de volta. Atuando em La Paz, cidade conhecida por sua altitude, o São Paulo abriu vantagem de três gols em menos de trinta minutos sobre os seus adversários. O Tricolor, portanto, tranquilizado pela diferença, o que obrigaria os bolivianos a marcarem nove vezes para obter a vaga, relaxou e, no segundo tempo, permitiu a virada. 

Por mais que muitos digam que o jogo tenha, naturalmente, pelo abismo técnico, se tornado um amistoso, um treino de luxo, e pelas dificuldades enfrentadas em embates a elevadas alturas, a equipe não pode ser tão indiferente a uma partida. Principalmente quando ela está no caminho de um, quem sabe, futuro tetracampeonato continental. 

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Dias melhores virão?

por Lucas Ribeiro

Ontem, Paulo Nobre, depois de acirrada disputa com o adversário Décio Perin, foi eleito, em substituição ao criticado Arnaldo Tirone, o novo presidente do Palmeiras. Jovem, 44 anos, sendo o segundo mais jovem da história do clube, o advogado e piloto de rali vai tentar, nos próximos dois anos, dar uma regularidade ao alviverde paulista, coisa distante desde os idos anos 90, mais precisamente desde 1999, quando, amparado pela Parmalat, o clube levantou sua primeira Libertadores e, ao final daquele, foi vice-campeão mundial. 

Uma das promessas do recém-empossado é transformar profissionalmente o clube. Responsável por "inocentar" Tirone, quem, para ele, apesar de ter errado, errou tentando acertar, Nobre quer levantar o moral dos palmeirenses criando o sistema de sócio-torcedor, que, há muito, já está presente no futebol brasileiro, nos clubes mais estruturados do país. Melhor momento para tal não há: o clube inaugura sua Arena, em substituição ao arcaico Palestra Itália, fator que, por si só, já seria suficiente para recuperar o ânimo dos alviverdes. 

Para que tal projeto dê certo, contudo, é necessário que haja uma antecipação de investimentos; além do novo campo, com estreia prevista para este 2013, o atual mandatário tem que ter em mente que contratar nomes de peso é fundamental, até para brigar, numa Série B, por melhores cotas televisivas. Portanto, de imediato, é obrigatória a vinda de Riquelme, com quem flerta o clube desde julho passado, quando deixou o Boca Juniors, e de quem está bem próximo desde o final de 2012. Ou seja, é primordial, para que as atenções se voltem à Rua Turiassu, que se ignore, num primeiro momento, a pesada dívida de R$293 milhões. 

A longo prazo, como bem quer Nobre, a vinda de José Carlos Brunoro seria um diferencial. Hábil dirigente, foi um dos principais articuladores do sucesso do Palmeiras nos tempos de Parmalat. Assim, com pensamentos imediatos e graduais, o Verdão pode voltar a sonhar com uma rotina de títulos. O primeiro impacto foi positivo; agora resta saber se, ao contrário de tantos outros que assumiram a (dura) tarefa de comandar o clube, o sopro de mudança com um sobrenome que nos remete à aristocracia não sentirá o peso e conseguirá, de uma vez por todas, colocar a nau no seu caminho certo. 

sábado, 19 de janeiro de 2013

O primeiro golpe em Marin

por Lucas Ribeiro

Ontem, depois de ser derrotado por 2 a 0 pelos peruanos, o Brasil foi eliminado do Sul-Americano Sub-20 e, consequentemente, perdeu a possibilidade de defender o título mundial. Depois de com méritos vencer a competição em 2011, contando com bom jogadores como Danilo, Alex Sandro, Fernando e Oscar (sem contar as presenças de Lucas e Neymar na fase classificatória), em 2013 o time nem sequer passou do seu grupo B.

A estrutura, por sua vez, começou a ruir em junho passado. Depois de aceitar convite para treinar o São Paulo, o então técnico Ney Franco, responsável pela montagem do elenco que ganhou tudo há dois anos, deixou um buraco; Milton Cruz, num primeiro momento, foi o cogitado para tapá-lo, porém o nome confirmado foi o de Émerson Ávila, que, como pontos positivos, teve relativo sucesso na sub-17 e nela já havia trabalhado com Ademílson e Adryan, que estavam nesta última convocação.

E, por falar em convocação, apesar dela conter nomes como o de Fred, destaque do Internacional, Felipe Ânderson, promessa do Santos, e Bruno Mendes, bom centroavante do Botafogo e que, com apenas 18 anos, fizera um bom Paulistão com o surpreendente Guarani, além dos dois citados no parágrafo anterior, creio que Ávila errou basicamente em deixar de fora, não sei se por atendimento a um possível pedido da diretoria são-paulina, de olho no título da Copa São Paulo, ou por opção do próprio treinador, um fator mais plausível, jovens que já tinham passado com sucesso pela equipe principal, tais como Lucas Farias, Henrique Miranda e João Schmidt, e, talvez por estar Europa, Lucas Piazon, agora emprestado ao Málaga, da Espanha.

Assim, o Brasil fez apresentações desastrosas. Na única vitória, inclusive, Felipe Ânderson fez, de pênalti, o gol que nos daria o 1 a 0 diante do Equador. Resta agora a José Maria Marin, o mandatário do futebol nacional, na sua ânsia de livrar a CBF de todos os resquícios administrativos de seu antecessor, Ricardo Teixeira, para instalar uma mentalidade própria, tentar recuperar o ânimo das demais categorias, destacavelmente a principal, já que o trabalho na seleção júnior foi jogado no lixo pelos próximos dois anos. E (bem) precocemente. 

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Juvenal, o paradoxal

por Lucas Ribeiro

Pegando gancho no excelente artigo escrito por Luís Augusto Simon, sob o título "As duas faces de Juvenal Juvêncio", decidi escrever minhas considerações sobre o presidente são-paulino. Em junho passado, o São Paulo em crise, na primeira partida que jogava sem o comando de Émerson Leão, demitido após os reveses na Copa do Brasil e contra a Portuguesa, no Brasileirão, enfrentou o Cruzeiro. Dirigido pelo interino Milton Cruz, o time, após surpreendente desempenho, derrotou os mineiros fora de casa por 3 a 2. JJ, extasiado pela vitória, entrou em campo ao final do embate e fez questão de abraçar seus atletas pelo triunfo. 

Pois bem. Tal fato foi à época tema de um texto publicado por mim mesmo aqui neste blog intitulado "Juvenal, o Juvenil". Eis que se passaram quase sete meses. Depois de longo jejum de quatro anos, o Tricolor voltou às glórias com a conquista da Copa Sul-Americana, depois de duro confronto com os argentinos do Tigre, além de algumas outras boas notícias, como a contratação, por R$24 milhões, de Paulo Henrique Ganso junto ao Santos.

Juvenal, por sua vez, é também diretamente responsável pela reviravolta no espírito do clube do Morumbi. Assim, como a esposa do mandatário o define na prosa confeccionada por Simon: "Ele é um homem maravilhoso, um bom companheiro, mas nunca foi romântico". Juvêncio é capaz de ter atitudes de um líder autoritário de terceiro mundo como também possuir virtudes que somente os mais racionais dos republicanos de nações de primeiro possuiriam. 

Da mesma maneira que consegue fazer questão de expor sua imagem nos festejos de uma vitória inesperada, e de portanto também querer ressaltar que sem sua presença de "paizão" a equipe a nenhum lugar chegaria, e de participar de uma pesada briga judicial com a oposição, que o acusa de rasgar o estatuto do clube em benefício próprio, JJ, surpreendentemente, consegue tocar o SP sob uma administração serena e responsável, que consegue trazer estrelas como Luís Fabiano e o próprio ex-camisa 10 santista. Nesta semana, inclusive, o polêmico dirigente paulista aconselhou seus pares cariocas, notadamente os do Fluminense, sobre os riscos de se contratar Kaká, dono de elevadíssimos salários que poderiam comprometer as suas finanças.

Ou seja, Juvêncio só não é perfeito porque, ao contrário da pouca presença de romantismo acusada por sua companheira, com o clube é demasiado passional. Se ele conseguisse canalizar esta apenas para o JJ torcedor, e não para o JJ cartola, quem sabe o São Paulo não tivesse o melhor presidente do mundo?

domingo, 13 de janeiro de 2013

Uma análise sobre o atual comportamento dos eleitores durante as vésperas de eleições.

por André Gobi

Ano de eleições no Brasil sempre tem suas peculiaridades e temos exemplos bem recentes para a inspiração de uma discussão, afinal, tivemos eleições recentemente, há pouco mais de três meses. Os ânimos se inflam, e as pessoas, envolvidas diretamente ou não com a campanha de candidatos, parecem demonstrar um amplo conhecimento e envolvimento político, como se fossem militantes em prol de uma sociedade mais justa e democrática, visando o bem da comunidade em geral.

Porém, ao analisar mais a fundo e conversar com as mesmas pessoas que se tornam militantes eventuais percebemos, que pouco sabem mesmo sobre cujo candidato defendem a bandeira. Não sabem qual a ideologia do partido (embora, confesso, as ideologias partidárias em nosso país não se diferem muito mesmo), muito menos o histórico político do candidato escolhido. Estão mais ligados a tal indivíduo devido a algum grau de simpatia, seja ela resultado de parentesco, favores, indicação de alguém ou outros tantos fatores. 

O brasileiro não é ativo politicamente - pelo menos nos últimos tempos (com raras exceções, como em toda regra que se preze) temos visto uma acomodação por parte da sociedade brasileira, e pior, um comodismo e a falta de interesse que se abateu sobre os eleitores brasileiros. Não pretendo aqui ponderar sobre o momento econômico que pode de alguma maneira ter gerado tal comodismo, mas sim acerca de como o brasileiro médio trata a eleição.

Brasileiro não tem interesse na política, ele não gosta. Mas ele gosta de ganhar, de vencer, independente de qual esfera estejamos falando. Podemos fazer uma analogia com o esporte. Poucos esportes olímpicos no Brasil têm patrocínio do governo ou da iniciativa privada. Muitas modalidades sofrem com a falta de patrocínio justamente pela “falta de vitórias”, por não conseguirem competir com atletas de outras nações, onde há o incentivo público e privado. Ora, se não há incentivo e investimento, logo é um tanto lógico que o desenvolvimento de determinada atividade não será realizada em sua plenitude. Após esta breve elucidação, podemos voltar ao foco central deste artigo. Retomando a idéia de que o brasileiro adora vencer, podemos pegar o exemplo do esporte olímpico para uma demonstração, já que em 2016 os Jogos Olímpicos serão realizados em solo carioca. Nunca houve o investimento necessário nesse campo, porém, ao contrário, há a cobrança para que os atletas “não façam feio”, por parte dos órgãos governamentais que cuidam do Ministério do Esporte. Nesse caso, não há tanta cobrança popular. Mas podemos elucidar melhor o exemplo da “gana por vitória” quando olhamos atenta e criticamente para o esporte mais popular da Terra.

Temos a crença de que o Brasil é o país do futebol, de que esse esporte é adorado pelos que habitam esse país. Ledo engano. Aqui, podemos verificar, mais uma vez e em outra esfera, que o brasileiro gosta mesmo é de vencer. Ele adora seu time, seu selecionado nacional, quando este é vencedor de alguma competição. Quando se depara com a derrota, logo faz questão de encontrar e apontar culpados para o fato, tais como fatores internos ou externos. Pode ser desde um erro do treinador a algum de um jogador específico. De erro do árbitro ou deslealdade do adversário. Atos da torcida adversária ou até mesmo (pasmem) influência dos seus próprios aficionados. Sempre há uma desculpa que justifica o fato de a vitória não ter sido conquistada. Sempre há um culpado que é execrado, como se o esporte fosse encarado como uma guerra, onde o derrotado terá seu povo escravizado pelo vencedor. Patético, para que a crítica não se torne tão extensa. 

Após fazer uso de uma prática popular e que envolve uma política populista para esclarecer um aspecto de nossa sociedade, permitimo-nos voltar para o objeto central desta pauta, o posicionamento político em tempos eleitorais. Observando os programas eleitorais na televisão e campanhas em algumas cidades, percebe-se que há um movimento de pessoas nos partidos como se fosse uma torcida organizada de alguma agremiação esportiva. Não há um diálogo político com apresentação de propostas voltadas ao meio em que determinado candidato está inserido. A justificativa mais utilizada pelos partidários de candidato A ou B é a de que “o meu é melhor”, ou ainda “mais honesto”.

Porém, volto a ressaltar, quando é levantado algum questionamento sobre o passado político do indivíduo defendido, não há uma resposta satisfatória, sendo que na maioria das vezes, são argumentos chulos que deixam implícito de que o apoio existe se esperando algum retorno individual, caso o candidato seja eleito. Retorno esse que pode ser desde “presentes”, como combustível para veículos (sim, isso realmente acontece), valores em dinheiro, e até uma iniciação na carreira política, com a indicação para algum cargo, tal como assessor. Muitos começam na política assim, fato que nos remete a Max Weber, quando aborta o indivíduo que faz da política um meio de vida, uma profissão. Ao invés de viver para a política, os políticos brasileiros cada vez mais estão vivendo da política, e pior, fazendo carreira e escola. Claros são os casos de estados que mais parecem capitanias hereditárias, uma vez que estão sob posse das mesmas famílias há gerações.

Reitera-se aqui de que o objeto de discussão, isso é, as pessoas apontadas neste artigo, são aquelas que trabalham e defendem de maneira frenética um candidato e se encaixam no perfil destacado. Não se refere ao eleitor padrão, que na maioria das vezes também mostra-se tão pouco interessado no que acontece politicamente em seu país. 

Ainda, é digno de destaque, a parte de acusações de todas as alas, elevando a disputa política nos dias atuais a um nível de baixaria que é difícil diferenciar se o que é falado se trata de piada ou acusação séria. Panfletos com supostos atos ilícitos, malas direta espalhadas pela internet, acusações e confrontos de todos os tipos. Tudo parece ser permitido durante cerca dos dois meses que precedem as eleições. Porém, com a mesma avidez com que as disputas são travadas, desaparecem no dia seguinte à contagem dos votos que determina a vitória de uns e derrota de outros. Nos dias que se seguem, como no exemplo citado logo acima, sobram desculpas e caça aos culpados, assim como acusações acaloradas de manobras ilegais durante todo processo eleitoral. Calor esse, que se dissipará nos dias seguintes, quando todos voltam a cuidar das próprias vidas. 

Mas o que acontece com o engajamento político? A vontade de mudar a situação atual, de eleger aquele que será o melhor representante para aquela comunidade? A fúria eleitoral passa e todos voltam a se concentrar em seu individualismo, como também o foi durante as campanhas eleitorais, porém agora, de maneira mais explícita.

Pretende-se aqui chamar a atenção para a falta de interesse político pelo qual passamos, uma vez que todos costumam colocar a culpa das mazelas que pairam sobre nós nesses mesmos políticos, que para muitos são como lendas folclóricas, ninguém vê ou sabe se realmente existe, e acaba exercendo seu voto apenas por uma obrigação imposta pelo Estado.

Enquanto não houver uma educação com direcionamento para que as pessoas tenham uma participação política (além de apenas votar para não pagar uma pequena multa), e principalmente, consciência política, as disputas políticas brasileiras não passarão de uma camuflada competição futebolística. E a cúpula política continua, independente da sigla do partido, distribuído o clássico e clichê pão e circo à população, que tristemente, parece cada vez mais se contentar com isso.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Gilvan, o homem que quase barrou Montillo no Santos


por Lucas Ribeiro

A venda de Montillo para o Santos derrubou um pilar que vinha sendo mantido, desde finais de 2011, no Cruzeiro: a questão do argentino ser uma "propriedade" do clube, ao menos enquanto durasse seu contrato com os belo-horizontinos. O principal artífice dessa nova política, por sua vez, é o advogado Gilvan de Pinho Tavares, que assumiu a presidência cruzeirense na mesma época em que o seu camisa 10 começava a ser cobiçado pelos gigantes paulistas.

Gilvan, apesar de indicado por Zezé Perrella como seu sucessor na direção do clube, adotou um estilo de gestão que vai de contramão ao do atual senador. O novo comandante decidiu que, ao invés de vender ídolos, o melhor a se fazer era mantê-los. Um programa de sócio-torcedor, para tanto, entrou em vigência no começo do ano passado. A intenção era, com Montillo em campo, atrair mais adeptos ao estádio. Contudo, a irregular campanha cruzeirense no Brasileirão e a reforma do Mineirão foram fatores que acabaram impotencializando o sucesso da empreitada em 2012. 

Perrella, ao contrário, foi responsável pela transformação do Cruzeiro em "balcão de negócios". Extremamente longevo no cargo, que ocupava desde 1995, a quantidade de conquistas somadas foi diretamente proporcional à saída de craques de Minas Gerais. Apesar de ter levantado, apenas como exemplos, um inédito Brasileirão, em um 2003 no qual o time, ao vencer a Tríplice Coroa, foi imbatível, e o bi da Libertadores, jogadores fortemente identificados com a torcida eram, na primeira oportunidade, vendidos a quem oferecesse mais dinheiro. Nem a crise que afetou a Europa a partir de 2008 conseguiu saciar a sua  "fome". Após tal arrefecimento econômico, o clube ainda lucraria com seus expoentes Marcelo Moreno, Ramires, e Wágner, que embarcaram, respectivamente, para a Ucrânia, para Portugal e para a Rússia.

Alex, Sorín, Ricardinho, Geovani, entre outros, entraram para a galeria de ídolos que muito provavelmente não permaneceram mais tempo fazendo a alegria dos cruzeirenses porque foram preteridos por dólares, ienes e euros em grandes quantidades. Todos sabemos que o futebol é, hoje, assim. O Capitalismo, logo o anseio pelo equilíbrio financeiro, passou a ditar o ritmo e, senão impossível, é improvável que uma agremiação, ainda mais brasileira, possa se manter sem vender ao menos um atleta de destaque por ano, apenas para tentar parafrasear Perrella nas suas explicações de que porque havia negociado determinado futebolista.

Mas nunca, em sua gestão, se procurou um equilíbrio entre clube e jogador, na proporção em que, mesmo inviabilizado por outros motivos, tentou seu sucessor. No caso Montillo só houve uma permanência mais duradoura do argentino, que atuou em seu primeiro clube tupiniquim entre 2010 e 2012, porque foram buscadas, através de promoções visando à venda de ingressos e, consequentemente, à atração de aficcionados aos gramados, outras maneiras de se explorar sua imagem.

Apesar de ter recebido um valor menor do que esperava e do que já recebera de propostas, 6 milhões de euros, especula a imprensa, e mais o volante Henrique, que fora negociado em 2011 nos moldes "perrelianos", a resistência de Gilvan é louvável, Gilvan este responsável por, com pouco dinheiro em caixa, ter obtido bons reforços (até agora, o ex-santista e Diego Souza são os de maior destaque) para a temporada que se inicia. Quem sabe, se há longínquos 17 anos os cruzeirenses não tivessem entrado nesta mesma rota, o clube não estivesse mais estável...

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Globo Esporte: mudança ou morte

por Lucas Ribeiro

O programa Globo Esporte, da emissora homônima, vem sofrendo com a perda de audiência nos últimos meses. Estuda-se uma reformulação na atração, a começar pelo exagerado humor em grande parte instalado por Tiago Leifert, que passou a comandá-lo a partir de 2009. Apesar dos iniciais elogios recebidos no primeiro ano sob nova apresentação, o GE foi se desnorteando ao longo desses quatro anos, tornando-se mais um programa de variedades do que um televisivo esportivo, de acordo com o indicado por seu nome. 

No ar desde 1978, a atração era totalmente diferente nas décadas de 1980 e 90, quando teve boa parte de suas edições apresentadas pelo lendário Léo Batista e por Fernando Vanucci, o mesmo que, já na RedeTV!, daria vexame após a final da Copa de 2006. Há algumas destas disponíveis no YouTube, para o interessado perceber que, à época, o propósito era unicamente veicular as novidades do esporte, principalmente o futebol, mas de modo bem mais sereno. 

Com a popularização das TVs a cabo, principalmente no início deste século, a toda-poderosa das telecomunicações no país perdeu consideravelmente seu espaço no nicho "notícias esportivas". Apesar de ter conseguido o monopólio da transmissão das principais competições do ludopédio nacional, talvez, junto com as novelas, a principal atração da emissora, e da influência, fortemente bancada pelas montanhas de dinheiro investidas na Seleção, dentro da CBF, os fãs do esporte, só para parafrasear como é tratado o telespectador por um canal pago, passaram a gozar da "companhia" de jornalistas muito mais capacitados e mais críticos em comparação a seus colegas globais. 

Mesmo a SporTV, também de propriedade da família Marinho, é amplamente superior à Globo. Mas a "cereja do bolo" do jornalismo esportivo tupiniquim é a ESPN. Com feras como Paulo Vinícius Coelho, Mauro Cézar Pereira, Gian Oddi e outros do mesmo escalão, sofre por ser obrigada a apenas comentar os campeonatos disputados em solo brasileiro. Porém, detentora do direito de boa parte das ligas europeias e da Champions League, tem uma transmissão de dar inveja a Galvão Bueno, Caio Ribeiro e ao intragável Leifert, que às vezes entra para dar seus "pitacos" (que, convenhamos, quase sempre têm pouquíssima consonância com o evento). 

O GE, para voltar ao nosso foco, se perdeu basicamente por uma razão: tratar o futebol como apenas uma brincadeira, o que, por exemplo, obriga jogadores como Barcos, então recém-chegado ao Palmeiras, a responderem grosseiramente, e com razão, uma brincadeira do também pouco suportável repórter Léo Bianchi acerca de sua semelhança física com o cantor Zé Ramalho. Até o Fantástico, com seu "pede música com três gols", já foi alvo da franqueza de atletas mais conscientes: após deixar a bola nas redes nesta quantidade na estreia botafoguense no Brasileirão do ano passado, o argentino Herrera também se recusou a utilizar o programa como um "jukebox". 

Ou seja, para que volte a ver sua atração da hora do almoço conquistar pontos do Ibope, é imperativo que mudanças sejam empreendidas. E, por mais que o público brasileiro não seja o mais esperto, e aquele que o é já empreendeu sua transferência às televisões mais seletas do cabo, aqui o futebol é tratado como artigo de primeira necessidade.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

As premiações (parcialmente justas) da FIFA

por Lucas Ribeiro

Apesar dos dois dias de atraso, posto hoje minhas opiniões sobre o jogador e o time FIFA de 2012. Comecemos, assim, pelo primeiro: quebrando o recorde desde a introdução do prêmio, em 1990, Lionel Messi, do Barcelona, ganhou sua quarta Bola de Ouro, ainda por cima consecutiva. Desde 2009 o craque argentino vem levando tal troféu pra casa. E, apesar de responsável por várias façanhas, com a principal  tendo sido agora a quebra da marca anterior, de 1972, do alemão Gerd Müller, de gols marcados num só ano, sou partidário do que disse anos atrás, numa entrevista à Revista Placar, o ex-técnico do Barça e hoje da Arábia Saudita, Frank Rijkaard, de que o futebol é praticado por outros 10 atletas; sendo assim, um time completo, e não um único futebolista, deveria ser premiado. 

Considero tal premiação, portanto, apesar da importância do camisa 10 blaugrana para o futebol, dispensável, que, para sua atuação de alto nível, depende também de colegas, em suas respectivas posições, de qualidade reconhecida. Além do mais, a Bola serve para inflar o ego de jogadores que já pensam ser auto-suficientes em campo, como Cristiano Ronaldo, visivelmente decepcionado pela premiação do seu rival direto pela quarta vez. 

Falemos agora dos 11 melhores para a principal responsável pela gerência do futebol no mundo.  Os escolhidos foram: Casillas (Real Madri); Dani Alves (Barça), Piqué (Barça), Sérgio Ramos (Real Madri) e Marcelo (Real Madri); Xabi Alonso (Real Madri), Xavi (Barça) e Iniesta (Barça); Messi (Barça), Falcao  García (Atlético de Madri) e Cristiano Ronaldo (Real Madri). Resumindo, cinco catalães, cinco merengues e um colchonero. Ou seja, um time integralmente espanhol.  

Desse modo, tenho, como sempre, minhas reticências em relação à escolha. A começar pelo gol. O titularíssimo da Fúria na conquista de mais uma Eurocopa é, para mim, inferior ao tcheco Petr Cech, o goleiraço do Chelsea, que fechou a meta durante a fase final da Champions League, da qual os londrinos foram vencedores. Na zaga, por que Sérgio Ramos num planeta onde há um monstro chamado Thiago Silva, que, apesar de claramente afetado pelos dois últimos anos de mau desempenho do Milan, é exemplo de segurança no setor defensivo?

Na meia-cancha, o genial Andrea Pirlo, lamentavelmente próximo do fim, merecia, apesar do título europeu de Alonso, a vaga. Até Ramires, do campeão de clubes do Velho Continente, apesar de rebatidos por muitos, foi muito mais eficiente para os Blues do que o tecnicamente muito bom volante basco dos Real. E, no comando de ataque, apesar de realizar uma primeira metade de temporada impressionante, com gols atrás de gols, Falcao García seria substituído em detrimento de Didier Drogba, novamente pelas mesmas razões de seu ex-colega brasileiro de clube.

Deveriam, além dos pontos já abordados, existir menções honrosas a determinados atletas que, se não foram fundamentais ao futebol observado de maneira eurocêntrica pela FIFA, tiveram papel de destaque em competições teoricamente importantes, ou que deveriam ser à toda-poderosa, como a Libertadores e o seu Campeonato Mundial de Clubes, do qual se fala tanto e, aparentemente, até nessas eleições, é pouco valorizado. Dois atletas foram fundamentais para que o Corinthians chegasse ao topo do mundo, mais, inclusive, no sentido de resultados, que o tão festejado Neymar, e eu gostaria de destacá-los.

O primeiro é o goleiro Cássio. Fenomenal depois da saída do então titular Júlio César, o ex-arqueiro de Grêmio e PSV Eidhoven simplesmente trancou sua meta na decisão diante do Chelsea. Apesar de menos acionado que o esperado, este gaúcho de 25 anos foi fundamental em pelo menos duas oportunidades claras dos ingleses, fator que o levou a ser selecionado o melhor atleta do Mundial. O segundo, e, para mim, principal, é Paulinho. O volante alvinegro de 24 anos mantém uma regularidade absurda desde 2011, quando o Timão levantou o Campeonato Brasileiro e não parou mais quieto. Bicampeão da prestigiada Bola de Prata, da Revista Placar, o camisa 8 ditou o ritmo corintiano durante toda a Libertadores e é peça taticamente indispensável no esquema do técnico Tite. 

Claro que Cássio está ainda passos atrás da dupla Casillas-Cech e que Paulinho, apesar de mais combativo e disposto, não é tão técnico quanto Alonso, mas é imperativo que a FIFA reveja alguns conceitos. Afinal, se o futebol não é, no sentido da qualidade, universal, ele é ao menos, além de europeu, também sul-americano.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Futebol paulista reforçado

por Lucas Ribeiro

Lúcio, Montillo e Pato. Três reforços que fazem o futebol paulista, principalmente São Paulo, Santos e Corinthians, ainda mais fortes para a temporada 2013. Isso sem falar naqueles que permaneceram: Luís Fabiano, Ganso, Neymar, Cássio, Paulinho e cia. Ou seja, se os dois paulistanos entram na Libertadores como franco favoritos ao título, com o alvinegro tendo a possibilidade de defender o campeonato, o Santos, apesar de ainda deixar a desejar no quesito reforço, entra como pleitador à conquista de um inédito tetracampeonato estadual. 

Não citei o Palmeiras, porque, apesar de estar na disputa da principal competição sul-americana, junto com seus outros dois rivais de cidade, sofreu, no último domingo, um pesado revés: perdeu o ídolo Marcos Assunção, que, pela atual conjuntura alviverde, de Série B e de reconstrução de elenco, seria, naturalmente, um líder fundamental. Além do mais, problemas têm envolvido outras duas referências da equipe, o chileno Valdívia e o goleador argentino Barcos. Enquanto o primeiro não se reapresentou junto com o restante dos colegas, não dando uma explicação convincente, o segundo, por meio de seu empresário, vem ameaçando deixar o clube. 

Agora falando pormenorizadamente em relação aos reforços, tratemos primeiro de Lúcio. Apesar de seus 34 anos, o zagueirão, capitão brasileiro no Mundial da África do Sul, foi uma contratação excelente por parte do tricolor, ainda mais por ter sido concluída sem ônus aos seus cofres (daquelas que seu presidente, Juvenal Juvêncio, adora). A avançada idade para um futebolista para o ex-jogador colorado se trata, no entanto, de um detalhe. A exemplo dos veteranos Juninho Paulista, Zé Roberto e Seedorf, destaques do último Brasileirão, o campeão europeu de clubes em 2010 é um dedicado atleta. Deve, desse modo, colocar "lenha na fogueira" pela titularidade num setor que terminou 2012 de maneira positiva, responsável por premiar ainda mais o título da Sul-Americana, quando os são-paulinos não sofreram gols nas partidas disputadas em casa. 

Já o argentino Montillo, outrora disputado por São Paulo e Corinthians, viu sua confirmação como jogador do Santos representar sua definitiva saída, depois de várias idas e vindas desde inícios de 2012, do Cruzeiro. Apesar do "jogo duro" realizado pelo presidente do clube mineiro, Gilvan de Pinho Tavares, que já havia recusado propostas até mais gordas que os 6 milhões de euros pagos pelos santistas e, graças à confidencialidade da negociação, apenas especulados pela mídia, o então principal jogador mineiro junto com Ronaldinho Gaúcho terá a oportunidade de, substituindo Ganso e junto com Neymar, dar ao Peixe uma temporada mais estável que a passada e de se firmar na Seleção Argentina, pela qual teve, atuando no Brasil, pequenas chances jogando o Superclássico das Américas. 

Pato, que decidi abordar por último, significa, por sua vez, a contratação mais emblemática para a temporada nascente. Cercado de mistérios pelo Internacional, clube que o revelou, antes mesmo de sua estreia pelos profissionais, prometia ser um craque. Comprado por 20 milhões de euros pelo Milan antes mesmo de completar 18 anos, idade mínima para um atleta não-comunitário atuar na Europa, ainda marcaria, antes de declinar na carreira, gol na sua estreia pela seleção principal, coisa que apenas atletas como Zico tiveram a oportunidade de fazer. Lesões e, principalmente, falta de ambição fizeram o jovem de 23 anos deixar de lado seu potencial. 

Seu desinteresse é tão visível que sua contratação dividiu a Fiel em duas: um grupo aceitava a contratação do jogador, se confirmada, de braços abertos; outro, ao contrário, não queria o então camisa 9 milanista pois o elenco corintiano chegou a um titulo mundial sem estrelas, e delas, principalmente as não comprometidas, ele não precisaria. Mas, independentemente do clubismo e a exemplo de Ronaldo, há, por parte da grande maioria dos torcedores, uma torcida pela recuperação do (ex?) craque. Da diretoria corintiana em especial. Afinal, nada mais, nada menos que 15 milhões de euros foram desembolsados pela compra de 100% de Pato, valor que, no caso de fracasso do atacante, poderia se converter na montagem de quase outro time idêntico ao que levantou a tão sonhada Libertadores, em julho.

Acima de tudo, mesmo antes de entrarem em campo, Montillo e Pato já viraram armas para o marketing santista e corintiano. Tão logo o acerto foi confirmado, o Santos já anunciava em seu site a venda de camisas 10 com o nome do argentino nas costas por R$99,90. No Parque São Jorge, talvez até proporcionalmente ao preço pago pelo alvinegro paulistano aos milanistas, o Corinthians vende camisas 7 com o nome do seu reforço mais caro à temporada por R$209,90. Mas, muito provavelmente, as ações envolvendo ambos não devem parar por aí. 

E, com pelo menos duas décadas de atraso, o futebol brasileiro, ou, mais significativamente, paulista, parece se entrosar com dois fatores que alavancaram o seu par europeu: a valorização de atletas com maior consciência profissional, como Lúcio, que, apesar de dez anos de bola no Velho Continente, se impressionou com a estrutura são-paulina, e de campanhas de marketing, fazendo com que os torcedores "paguem a conta" pela chegada de craques, casos de Pato e Montillo.  

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Mais um craque fora de uma Copa?

por Lucas Ribeiro

Gareth Bale, do Tottenham, é um jogador daqueles de encher os olhos. Ex-lateral-esquerdo, nos Spurs virou uma espécie de ponta, mas, assim como tem responsabilidades ofensivas, é um atleta com uma versatilidade tática imensurável. Além do mais, é um especialista em bolas paradas, sendo o batedor oficial de faltas e escanteios em sua equipe, e é disputado, para a próxima temporada, por gigantes ingleses, como os dois rivais de Manchester, o City e o United. Tudo isso com apenas 23 anos de idade.

Dessa maneira, podemos concluir que Bale, pela qualidade, é uma das esperanças de bom futebol na Copa do Brasil, em 2014? Nem tanto. O meia é galês, seleção que não disputa Mundiais desde 1958, quando, inclusive, foi eliminada pelo Brasil, o futuro campeão. E, para piorar, tem tudo para ficar de fora de seu 14º Campeonato do Mundo: os Dragons vêm fazendo péssima campanha no grupo A das eliminatórias europeias; depois de quatro partidas, somaram apenas três pontos.

Mas Bale pode não ser o único craque de bola a ficar fora da principal competição organizada pela FIFA. Podemos até citar um compatriota, Ryan Giggs, como exemplo. O hoje veterano jogador e ídolo dos Red Devils também nunca conseguiu lograr êxito em ir a Copas do Mundo (afinal, como já dito no texto, sua seleção não se classifica a uma delas há 55 anos).  Outro exemplo é George Weah. O eleito com exageros melhor jogador do planeta em 1995 também falhou nas tentativas de classificar sua ainda hoje inexpressiva Libéria a Mundiais.

Podemos também citar aqueles que não tiveram a oportunidade de disputar uma por questões políticas. O brasileiro Heleno de Freitas, a despeito de sua conturbada vida pessoal, foi um cracaço nos anos 40, década que, como todos sabem, foi afetada pela Segunda Grande Guerra e não viu nenhum país sediar uma edição de Copa. O argentino Antonio Sastre, ídolo são-paulino naquela década, também foi afetado pela mesma razão (também até porque em 1938, quando teria a oportunidade, El Culia foi afetado pela decisão de seu país, Argentina, ofendida pela quebra do rodízio de anfitriões América do Sul-Europa, de não viajar à França). 

Há, todavia, casos como o de Dwight Yorke, contemporâneo de Giggs no Manchester United multicampeão do final dos anos de 1990, responsável por, depois de ter largado a sua seleção trinitina, voltar para uma última tentativa e sair-se bem, tendo jogado a Copa de 2006, na Alemanha, e dos ídolos holandeses Clarence Seedorf e Patrick Kluivert, que, a despeito de sua nacionalidade surinamesa, brilharam no futebol da antiga metrópole e por ela, uma seleção mais qualificada, tiveram a chance de jogar a fase final da competição. 

Torcemos, assim, para que Bale entre para esse segundo grupo e, como não teria a possibilidade nem de trocar de seleção, já que, à exceção de um país deixar de existir, o jogador, uma vez que toma tal decisão, não pode voltar atrás, não deixe de ser mais um futebolista de imenso talento fora de uma Copa do Mundo.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Seedorf, o exemplo

por Lucas Ribeiro

Segundo artigo publicado hoje no UOL Esportes, o holandês Seedorf, depois de seis meses no Brasil, mantém seus hábitos europeus. Nada de futevôlei e chopp na praia, muito menos exibicionismos com carrões e em festas cariocas. O botafoguense, por mais espalhafatoso e liberal que seja o comportamento dos atletas que atuam no Brasil, e que ele, por ser quem é, pudesse obter vantagens nessas "escapadelas", continuou seguindo a cartilha europeia.

Depois de terminar o Brasileirão em ótima forma e fase, principalmente para alguém com 36 anos, que, teoricamente, já está no limiar da carreira futebolística, Seedorf calou a boca de muitos críticos que cravaram com certeza indisciplinas e um comportamento mais consonante ao do "homem cordial", que aqui o recebera. O ex-craque milanista é, de fato, um atleta. Se assinou por quanto assinou, é porque se comprometeria até o final do seu contrato. Não à toa é um atleta respeitadíssimo não só na Holanda, mas em todos os clubes pelos quais passou.

Além do mais, preservou outros hábitos que, apesar de parecerem detalhes, são fundamentais. Chega aos treinamentos de modo impecavelmente bem-vestido, de ternos. Por mais que isso esteja na alçada pessoal do atleta, tal atitude demonstra o respeito pelo qual Seedorf sente pelo seu contratante. E, para tecer uma última consideração exclusiva sobre o holandês, fala seis idiomas (seu natal, italiano, espanhol, inglês, francês e português, que aprendeu por ser casado com uma brasileira). 

Vejamos agora, apenas como um exemplo dentro de outros milhares dentro do nosso futebol, Neymar. Apesar de ter visto seu Santos terminar 2012 de maneira irregular e, principalmente, sem uma cobiçada vaga à Libertadores, provou, mais uma vez e com apenas 20 anos de idade, que é um craque. A derrota diante do Barcelona, no Mundial do ano passado, só provou o quão era imaturo não só o camisa 11 mas o time alvinegro ao subir a campo contra um adversário que, apesar de superior, se beneficiou grandemente do nervosismo dos brasileiros. 

Mas, mesmo sendo um excelente jogador com a bola nos pés, não posso deixar de lado a comparação entre ambos os comportamentos, o do santista e de Seedorf. A cada ano, Neymar, da mesma maneira que acumula críticas positivas em relação ao seu futebol, também faz seu histórico em páginas de celebridades aumentar. Casos amorosos com "piriguetes" e afins, férias noticiadas cotidianamente na Disney etc. etc. etc.  

Neymar, assim, soa como uma antítese do holandês, que, perto dos 40 de idade e agora residente no Rio de Janeiro, sonho de 9 entre 10 estrangeiros, sabe manter sua inabalável, por mais que tentem forçar o contrário, discrição. Mas, corroborando com o que disse, tendo pouco mais da metade dos anos de vida do botafoguense, o camisa 11 do Santos melhorou muito. Se de 2010, depois daqueles episódios que culminaram com a demissão de Dorival Júnior, para cá o atacante parece ter se tornado mais humilde, pode ser que, com o passar dos anos, ele se torne mais centrado e, quem sabe, um modelo completo não só de jogador, o que ele já é, mas também de atleta.