quarta-feira, 21 de maio de 2014

Herois ou vilões sempre?

por Lucas Ribeiro

Quem acompanha o histórico da Seleção Brasileira desde 1990 (ao longe ou, pelo menos, quem tende a ler ou a consultar vídeos sobre), pode perceber o seguinte padrão: ou são heróis supremos os jogadores, como no casos de 1994 e 2002, quando saiu-se o time canarinho vencedor, ou são vilões detestáveis, como ocorreu nos demais Mundiais do período, quando a taça não desembarcou no Brasil. 

Ou seja, percebe-se, dentro da crônica esportiva ou mesmo no senso comum do torcedor, que ou somos, sem dúvidas, os supremos, os maiores da Humanidade, aqueles que são capazes de vencer desafios homéricos e levantar uma Copa do Mundo, ou incompetentes, à maneira de Nelson Rodrigues, que para definir o período pré-1958, o ano de nosso primeiro título, cunhou a expressão "complexo de vira-lata", fator que, devido a uma intrínseca inferioridade perante os europeus, nos levava a perder títulos graças a essa falsa sensação. 

Assim sendo, o brasileiro, quando vence, tende a admitir que os adversários eram verdadeiras pedreiras, quase imbatíveis, e, quando perde, a olhar seus próprios atletas como indignos. Podemos, para contrastar, utilizar-nos do seguinte exemplo: em 1994, quando vencemos o tetra de maneira invicta, talvez o adversário mais complexo a ser encarado tenha sido a Suécia, um time bem armado num ferrolho defensivo pelo competente Tommy Svensson - afinal, mesmo a Holanda, que ofereceu dificuldades, mas mais por conta de próprias falhas tupiniquins, e a finalista Itália não viviam momentos tão positivos. E, convenhamos, essa Suécia, por melhor time que fosse, estava longe de assustadora. Mas, pela conquista, a geração capitaneada por Dunga em campo é ainda vista como intocável.

Já em 2006, eliminado por uma forte França, que viu Zidane, em seu último Mundial, jogar o fino da bola, e ainda baseada em craques como Thuram, Henry e Vieira (remanescentes de 1998 e da Euro 2000) e em ainda revelações como Ribéry e Abidal, os atletas brasileiros daquela Copa ainda sofrem com reiteradas críticas de que houve um relaxamento durante a preparação para aquela competição. 2010 é outro exemplo cabível: enquanto perdemos para uma Holanda equilibrada, dona de um fortíssimo meio-campo, com Sneijder e van der Vaart, e de um não menos poderosíssimo ataque, liderado por van Persie e Robben, há ainda quem busque ser Felipe Melo o culpado pela desclassificação. 

E o complicado é, muitas vezes, observar que, mesmo em análises que teoricamente deveriam ser imparciais, segue-se o mesmo padrão: despreza-se tudo o que de mau aconteceu numa vitória - como em 1994, quando a única opção de jogo brasileira se resumia a municiar Romário - ou tudo o que de bom ocorreu numa derrota - em 2006, a dupla Lúcio e Juan formaram uma zaga interessante, que sofreu apenas dois gols durante o Mundial. O sentimento, assim, vai sempre do 8 ao 80; nunca fica, ali, num 40. 

Portanto, se preparem para as críticas pós-Copa: ou elas crucificarão a geração da primeira Copa do Mundo de Neymar, sem se, em caso de derrota, observar nenhuma qualidade do grupo - como, talvez, a união sempre promovida por Scolari - ou, com vitória, sem se enxergar nenhuma deficiência - como talvez o esquecimento de alguns bons nomes da temporada na lista final, como Miranda e Filipe Luís. Nunca, é claro, o meio termo.