domingo, 3 de março de 2013

Será a culpa de um só?


por Lucas Ribeiro

Fevereiro foi um mês permeado de violência na Copa Libertadores da América. Enquanto no dia 20, na Bolívia, a confusão atingiu uma agremiação brasileira, o Corinthians, e envolveu a morte de um adolescente, dia 27, em Buenos Aires, na Argentina, torcedores do anfitrião Vélez Sarsfield se digladiaram nas arquibancadas com adeptos do Peñarol, do Uruguai.

Na estreia do atual campeão da competição e do mundo na edição 2013, diante do San José local, um garoto de nome Kevin Espada, de apenas 14 anos de idade, foi atingido por um sinalizador, atirado por torcedores brasileiros, e acabou falecendo, no momento em que a Fiel comemorava o gol alvinegro na partida. A morte do jovem, por sua vez, causou repercussões ainda no decorrer do embate, quando, enquanto se aqueciam, reservas corintianos eram atingidos por objetos arremessados das arquibancadas sob os gritos de "assassinos".

Nos dias que sucederam o fato, a Conmebol, Confederação Sul-Americana de Futebol, tomou providências. Numa onda moralizadora, a responsável pelo ludopédio no continente impediu, como pena, o Corinthians de mandar seus jogos até o final da presente Libertadores com torcida. Esse movimento sobrou, inclusive, ao rival São Paulo, que, após os incidentes ocorridos na Copa Sul-Americana passada, quando no Morumbi foi campeão com a negativa dos argentinos do Tigre de retornarem a campo depois do intervalo, alegando que haviam sido agredidos no vestiário por seguranças dos mandantes, teve de abrir mão de jogar em seu estádio diante do Atlético-MG, também pela Liberta.

Mas, afinal, de quem é a culpa pela violência nos gramados da América do Sul afora? A Conmebol agiu certo? Creio que a pena imposta ao Corinthians foi muito dura. Ignorar uma punição, ao certo, seria absurdo, mas fazer com o que o clube atue até o final sem torcida, pelo erro de um "torcedor", foi um pouco pesado. Devemos refletir também, além do mais, que os sinalizadores andam a solta nas partidas da competição. E, se eles são proibidos, a culpa deveria recair sobre quem? Sobre o mandante, que permite que os fanáticos vão ao estádio portando tais objetos, sobre os próprios fanáticos, que o utilizam a despeito de um regulamento que o proíbe, ou sobre a própria confederação, que nunca puniu nenhuma das partes anteriormente, sendo, portanto, omissa? O Corinthians, por sua vez, se sentido prejudicado, tenta, nos bastidores, manobrar a decisão.

Historicamente, devemos nos lembrar que a disputa da Libertadores é repleta de acontecimentos polêmicos. O arremessar de objetos ao gramado, maneira como, inclusive, a torcida boliviana, revoltada, respondeu contra os atletas brasileiros após a morte de um de seus adeptos, é algo já, infelizmente, tradicional. Parece que, se não houver lançamento de pedras, moedas, tênis e outras coisas que os espectadores têm à mão, não é um jogo do mais importante campeonato interclubes da América. Como reflexo, faz também parte do "ritual" a presença de policiais munidos de escudo à beira dos gramados impedindo que tais bugigangas atinjam jogadores que desejam efetuar cobranças de lateral e de escanteio, por exemplo.

Além do mais, o Mundial Interclubes, depois de uma fase de brilho na década de 1960, foi perdendo seu peso e importância depois de os europeus, revoltados com a pouca hospitalidade principalmente de argentinos e uruguaios, passarem a abrir mão, no decênio seguinte, de disputá-lo. Talvez o ponto alto de tal declínio tenha sido a edição de 1969, quando os hermanos do Estudiantes de La Plata enfrentaram os italianos do Milan. Num embate que tomou uma tônica política, o nativo Nestor Combin, jogador da agremiação da Europa e que atuara pela seleção francesa, chegou a ser detido pela polícia por "deserção".

Ou seja, estamos lidando com incidentes que acontecem há cinco décadas e contra os quais a Conmebol nunca tomou frente. A questão não é ser contra a moralização da competição, da qual seria totalmente favorável, mas se ela realmente será eficaz. Afinal, uma semana depois da morte de um garoto, duas torcidas se envolveram em uma guerra campal. Portanto, apesar de passar, sim, pelos torcedores e clubes, a responsabilidade passa, fundamentalmente, pela organizadora, que, se quiser realmente transformar a Libertadores, precisa punir com mais equidade, serenidade e, principalmente, seriedade.

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