por Lucas Ribeiro
Fevereiro foi um mês permeado de violência na Copa
Libertadores da América. Enquanto no dia 20, na Bolívia, a confusão atingiu uma
agremiação brasileira, o Corinthians, e envolveu a morte de um adolescente, dia
27, em Buenos Aires, na Argentina, torcedores do anfitrião Vélez Sarsfield se
digladiaram nas arquibancadas com adeptos do Peñarol, do Uruguai.
Na estreia do atual campeão da competição e do mundo na
edição 2013, diante do San José local, um garoto de nome Kevin Espada, de
apenas 14 anos de idade, foi atingido por um sinalizador, atirado por
torcedores brasileiros, e acabou falecendo, no momento em que a Fiel comemorava
o gol alvinegro na partida. A morte do jovem, por sua vez, causou repercussões
ainda no decorrer do embate, quando, enquanto se aqueciam, reservas corintianos
eram atingidos por objetos arremessados das arquibancadas sob os gritos de
"assassinos".
Nos dias que sucederam o fato, a Conmebol, Confederação Sul-Americana
de Futebol, tomou providências. Numa onda moralizadora, a responsável pelo
ludopédio no continente impediu, como pena, o Corinthians de mandar seus jogos
até o final da presente Libertadores com torcida. Esse movimento sobrou,
inclusive, ao rival São Paulo, que, após os incidentes ocorridos na Copa
Sul-Americana passada, quando no Morumbi foi campeão com a negativa dos
argentinos do Tigre de retornarem a campo depois do intervalo, alegando que
haviam sido agredidos no vestiário por seguranças dos mandantes, teve de abrir
mão de jogar em seu estádio diante do Atlético-MG, também pela Liberta.
Mas, afinal, de quem é a culpa pela violência nos gramados
da América do Sul afora? A Conmebol agiu certo? Creio que a pena imposta ao
Corinthians foi muito dura. Ignorar uma punição, ao certo, seria absurdo, mas
fazer com o que o clube atue até o final sem torcida, pelo erro de um
"torcedor", foi um pouco pesado. Devemos refletir também, além do
mais, que os sinalizadores andam a solta nas partidas da competição. E, se eles
são proibidos, a culpa deveria recair sobre quem? Sobre o mandante, que permite
que os fanáticos vão ao estádio portando tais objetos, sobre os próprios
fanáticos, que o utilizam a despeito de um regulamento que o proíbe, ou sobre a
própria confederação, que nunca puniu nenhuma das partes anteriormente, sendo,
portanto, omissa? O Corinthians, por sua vez, se sentido prejudicado, tenta,
nos bastidores, manobrar a decisão.
Historicamente, devemos nos lembrar que a disputa da
Libertadores é repleta de acontecimentos polêmicos. O arremessar de objetos ao
gramado, maneira como, inclusive, a torcida boliviana, revoltada, respondeu
contra os atletas brasileiros após a morte de um de seus adeptos, é algo já,
infelizmente, tradicional. Parece que, se não houver lançamento de pedras,
moedas, tênis e outras coisas que os espectadores têm à mão, não é um jogo do
mais importante campeonato interclubes da América. Como reflexo, faz também
parte do "ritual" a presença de policiais munidos de escudo à beira
dos gramados impedindo que tais bugigangas atinjam jogadores que desejam
efetuar cobranças de lateral e de escanteio, por exemplo.
Além do mais, o Mundial Interclubes, depois de uma fase de
brilho na década de 1960, foi perdendo seu peso e importância depois de os
europeus, revoltados com a pouca hospitalidade principalmente de argentinos e
uruguaios, passarem a abrir mão, no decênio seguinte, de disputá-lo. Talvez o
ponto alto de tal declínio tenha sido a edição de 1969, quando os hermanos do
Estudiantes de La Plata enfrentaram os italianos do Milan. Num embate que tomou
uma tônica política, o nativo Nestor Combin, jogador da agremiação da Europa e
que atuara pela seleção francesa, chegou a ser detido pela polícia por "deserção".
Ou seja, estamos lidando com incidentes que acontecem há
cinco décadas e contra os quais a Conmebol nunca tomou frente. A questão não é
ser contra a moralização da competição, da qual seria totalmente favorável, mas
se ela realmente será eficaz. Afinal, uma semana depois da morte de um garoto,
duas torcidas se envolveram em uma guerra campal. Portanto, apesar de passar,
sim, pelos torcedores e clubes, a responsabilidade passa, fundamentalmente,
pela organizadora, que, se quiser realmente transformar a Libertadores, precisa
punir com mais equidade, serenidade e, principalmente, seriedade.
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