quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Os novos donos da bola


por André Gobi

O mundo da bola tem acompanhado no último ano a ascensão do Paris Saint-Germain (PSG), time da primeira divisão do futebol francês. Uma mudança e tanto no time aconteceu quando em junho de 2011, o clube foi adquirido por um grupo dos Emirados Árabes, a Autoridade de Investimento do Qatar Investment Authority ("QIA"), tendo Nasser Al-Khelaïfi como presidente do clube. A partir de então, o PSG passou a fazer grandes contratações.

Não é um time desconhecido, principalmente dos brasileiros. O time já teve vários ilustres no elenco, como Ronaldinho, Vampeta, Leonardo, Ricardo Gomes, Raí (ídolo até hoje da torcida), e ainda tem os brasileiros Nenê, Maxwell, Thiago Motta, Alex, Thiago Silva (que se apresenta após os Jogos Olímpicos) e agora também o são paulino Lucas (que se integra ao time em 2013). Além desses, vale ressaltar a presença do uruguaio Diego Lugano, velho conhecido dos brasileiros.

Além disso, tem jogadores de várias nacionalidades e alguns títulos em sua história. Claro que nada muito relevante, mas conquistou alguns títulos continentais como uma Recopa Européia (1996) e uma Copa Intertoto da Uefa (2001), além de títulos de âmbito nacional. Isso faz, a nível europeu, o PSG ser um time de segundo escalão. É um dos grandes da França, assim como seu maior rival, o Olympique Marseille, porém fora do território francês, fica muito aquém dos outros grandes dos países vizinhos. Ultimamente, times até da Rússia tem estado à frente do clube francês.

No entanto, seus novos donos parecem mesmo dispostos a mudar esse cenário e desde a compra do clube em 2011, tem investido pesado em contratações. Primeiro foram Pastore, Alex, Maxwell, Thiago Motta, Lugano entre outros. Também contrataram o brasileiro Leonardo (que havia sido jogador do PSG) para exercer uma função de manager, contratação que se mostrou extremamente acertada, uma vez que Leonardo tem acesso a muitos clubes da Europa e Brasil, mantendo boas relações por onde passa.

Para a próxima temporada, o time resolveu gastar mais ainda. Para ter Thiago Silva, Zlatan Ibrahimovic e Lucas, o clube gastou aproximadamente R$ 650 milhões. Somente pelo garoto tricolor, pagou R$ 108,3 milhões! Gastos expressivos, se levarmos em conta que Lucas é ainda uma promessa e sem experiência internacional, apesar de ser um ótimo e promissor jogador.

O objetivo é óbvio. Vencer os campeonatos nacionais e a Uefa Champions League. Não é tarefa fácil, mesmo com o super e milionário time que está montando. Temos exemplos de que nem sempre um super elenco recheado de estrelas caríssimas e grupos investidores dão os resultados esperados. Podemos citar aqui o time dos galácticos do Real Madrid de meados dos anos 2000. Um time que chegou a vencer o campeonato nacional, porém, não teve o desempenho esperado. Só para lembrar, esse time tinha jogadores do calibre de Ronaldo, Roberto Carlos, Robinho, Van Nistelroy, David Beckham, Michael Owen e ninguém menos que Zinedine Zidane. Isso só listando os mais famosos. Temos ainda exemplos caseiros (muito mais modestos, claro), como o Flamengo da segunda metade dos anos 90 e o Corinthians de 2005. Mas não devemos nos esquecer dos exemplos bem sucedidos, como casos de Chelsea e Manchester City, ambos ingleses (tema para outro texto).

Além de se reforçar, o PSG também enfraquece alguns dos seus concorrentes a titulos continentais e locais. Exemplos claros disso são o Milan, da Itália, e o Manchester United, da Inglaterra. O primeiro é o exemplo mais gritante. Perdeu seus dois principais jogadores para o PSG, atitude que gerou protestos da torcida rossonera. Thiago Silva e Ibrahimovic eram o motor e alma do Milan e o time irá sentir muito com suas ausências. No caso dos ingleses, não se trata de perder um jogador de seu elenco, mas sim de perder um bom reforço. Os Red Devils não fizeram uma temporada à altura que se esperava em 2011, ainda mais devido às últimas ótimas temporadas que vinha fazendo. 

Os comandados de Alex Ferguson foram eliminados na primeira fase da Champions e na Europa League eliminados pelo pequeno espanhol Athletic Bilbao. Como se não bastasse, perdeu a Premier League para o rival local Manchester City nos últimos segundos da última rodada do campeonato, após abrir uma diferença bem confortável de 8 pontos sobre os citizens na fase final do torneio. Como o português Nani pode estar deixando Old Trafford e indo para o Real Madrid, Fergie tinha esperança de incorporar Lucas ao time, até ter seus planos frustrados pelo novo milionário francês.

O resultado de todo esse investimento será verificado nos próximos meses ou anos. Seria bom para o esporte que um time fora do tripé Inglaterra – Itália –Espanha despontasse novamente no cenário mundial. No entanto, numa época em que a FIFA preza tanto para que os atletas dentro de campo preguem o Fair Play (o chamado jogo limpo), nos bastidores quem tem mais dinheiro vai atropelando negociações e planejamentos que tem meses de andamento, sem se importar com nada relacionado à algum código de ético, e isso acontece sem nenhuma repreensão da própria FIFA ou dos governos dos países aos quais essas ligas e clubes pertencem. Money talks. E no futebol atual, money scores.

Um comentário:

  1. Torço muito pelo Lucas, acho um menino íntegro, às vistas do que nos chega via mídia esportiva. Mas cabe lembrar que o PSG, como bem frisado, não é primeiro patamar na escala dos grandes europeus hoje em dia. E isso gera impacto em várias frentes.
    Isso significa, a curto prazo, algo entre a adaptação do novo elenco (coisa que os galáticos do Real Madrid bem mostraram ser de difícil estabelecimento rápido) e a conquista do seu lugar em grandes competições. Confesso, não sei se o PSG ainda angaria uma vaga na Champions, mas já uma Copa Uefa já seria algo. Por tudo que se tornou ativo do clube, nem cito o campeonato e a copa francesas: parece, à todos, tarefa mais que obrigatória. Mas é exatamente nesta necessidade desenfreada, quase ecumênica, que reside o medo, o receio do fracasso. E isso, novamente, os galáticos de Beckham e companhia nos mostraram bem como funciona.
    Já a longo prazo (não tão extenso, de fato), deve-se considerar o quanto arriscado é a injeção desenfreada de dinheiro em um clube que não faz parte do alto escalão do futebol europeu atual. Não somente pela falta de títulos, mas pela visibilidade de retorno que o futebol francês oferece. Mesmo na época de Raí ou Ronaldinho Gaúcho, ou até mesmo com o Monaco naquela inimaginável final perdida diante do Porto em 2004, o retorno midiático curto nunca se resultou em retorno financeiro estabelecido. Além disso, de acordo com as novas regras da Uefa, os clubes europeus devem seguir o "fair play" financeiro, algo rapidamente definido como "não gastar mais do que arrecada". Os franceses têm dois anos para se enquadrar nesta contabilidade.
    É bom que os parisienses tenham outras possibilidades de arrecadação, além da conquista de títulos ou simples participação em campeonatos de peso. Repasse valorizado de jogadores jovens, ações de MKT, fortalecimento da marca, disseminação em outros países, enfim.
    Algo que, diretamente, possa ser ajustado, caso a "síndrome do titanic" (inventei, leigo do chorume, assumo) - o poderoso que não prevê a derrota - implante o receio do fracasso na mente e nas pernas dos jogadores.
    Caso contrário, ainda restam os bistrôs. Que desemprego charmoso!

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