quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

As premiações (parcialmente justas) da FIFA

por Lucas Ribeiro

Apesar dos dois dias de atraso, posto hoje minhas opiniões sobre o jogador e o time FIFA de 2012. Comecemos, assim, pelo primeiro: quebrando o recorde desde a introdução do prêmio, em 1990, Lionel Messi, do Barcelona, ganhou sua quarta Bola de Ouro, ainda por cima consecutiva. Desde 2009 o craque argentino vem levando tal troféu pra casa. E, apesar de responsável por várias façanhas, com a principal  tendo sido agora a quebra da marca anterior, de 1972, do alemão Gerd Müller, de gols marcados num só ano, sou partidário do que disse anos atrás, numa entrevista à Revista Placar, o ex-técnico do Barça e hoje da Arábia Saudita, Frank Rijkaard, de que o futebol é praticado por outros 10 atletas; sendo assim, um time completo, e não um único futebolista, deveria ser premiado. 

Considero tal premiação, portanto, apesar da importância do camisa 10 blaugrana para o futebol, dispensável, que, para sua atuação de alto nível, depende também de colegas, em suas respectivas posições, de qualidade reconhecida. Além do mais, a Bola serve para inflar o ego de jogadores que já pensam ser auto-suficientes em campo, como Cristiano Ronaldo, visivelmente decepcionado pela premiação do seu rival direto pela quarta vez. 

Falemos agora dos 11 melhores para a principal responsável pela gerência do futebol no mundo.  Os escolhidos foram: Casillas (Real Madri); Dani Alves (Barça), Piqué (Barça), Sérgio Ramos (Real Madri) e Marcelo (Real Madri); Xabi Alonso (Real Madri), Xavi (Barça) e Iniesta (Barça); Messi (Barça), Falcao  García (Atlético de Madri) e Cristiano Ronaldo (Real Madri). Resumindo, cinco catalães, cinco merengues e um colchonero. Ou seja, um time integralmente espanhol.  

Desse modo, tenho, como sempre, minhas reticências em relação à escolha. A começar pelo gol. O titularíssimo da Fúria na conquista de mais uma Eurocopa é, para mim, inferior ao tcheco Petr Cech, o goleiraço do Chelsea, que fechou a meta durante a fase final da Champions League, da qual os londrinos foram vencedores. Na zaga, por que Sérgio Ramos num planeta onde há um monstro chamado Thiago Silva, que, apesar de claramente afetado pelos dois últimos anos de mau desempenho do Milan, é exemplo de segurança no setor defensivo?

Na meia-cancha, o genial Andrea Pirlo, lamentavelmente próximo do fim, merecia, apesar do título europeu de Alonso, a vaga. Até Ramires, do campeão de clubes do Velho Continente, apesar de rebatidos por muitos, foi muito mais eficiente para os Blues do que o tecnicamente muito bom volante basco dos Real. E, no comando de ataque, apesar de realizar uma primeira metade de temporada impressionante, com gols atrás de gols, Falcao García seria substituído em detrimento de Didier Drogba, novamente pelas mesmas razões de seu ex-colega brasileiro de clube.

Deveriam, além dos pontos já abordados, existir menções honrosas a determinados atletas que, se não foram fundamentais ao futebol observado de maneira eurocêntrica pela FIFA, tiveram papel de destaque em competições teoricamente importantes, ou que deveriam ser à toda-poderosa, como a Libertadores e o seu Campeonato Mundial de Clubes, do qual se fala tanto e, aparentemente, até nessas eleições, é pouco valorizado. Dois atletas foram fundamentais para que o Corinthians chegasse ao topo do mundo, mais, inclusive, no sentido de resultados, que o tão festejado Neymar, e eu gostaria de destacá-los.

O primeiro é o goleiro Cássio. Fenomenal depois da saída do então titular Júlio César, o ex-arqueiro de Grêmio e PSV Eidhoven simplesmente trancou sua meta na decisão diante do Chelsea. Apesar de menos acionado que o esperado, este gaúcho de 25 anos foi fundamental em pelo menos duas oportunidades claras dos ingleses, fator que o levou a ser selecionado o melhor atleta do Mundial. O segundo, e, para mim, principal, é Paulinho. O volante alvinegro de 24 anos mantém uma regularidade absurda desde 2011, quando o Timão levantou o Campeonato Brasileiro e não parou mais quieto. Bicampeão da prestigiada Bola de Prata, da Revista Placar, o camisa 8 ditou o ritmo corintiano durante toda a Libertadores e é peça taticamente indispensável no esquema do técnico Tite. 

Claro que Cássio está ainda passos atrás da dupla Casillas-Cech e que Paulinho, apesar de mais combativo e disposto, não é tão técnico quanto Alonso, mas é imperativo que a FIFA reveja alguns conceitos. Afinal, se o futebol não é, no sentido da qualidade, universal, ele é ao menos, além de europeu, também sul-americano.

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