domingo, 13 de janeiro de 2013

Uma análise sobre o atual comportamento dos eleitores durante as vésperas de eleições.

por André Gobi

Ano de eleições no Brasil sempre tem suas peculiaridades e temos exemplos bem recentes para a inspiração de uma discussão, afinal, tivemos eleições recentemente, há pouco mais de três meses. Os ânimos se inflam, e as pessoas, envolvidas diretamente ou não com a campanha de candidatos, parecem demonstrar um amplo conhecimento e envolvimento político, como se fossem militantes em prol de uma sociedade mais justa e democrática, visando o bem da comunidade em geral.

Porém, ao analisar mais a fundo e conversar com as mesmas pessoas que se tornam militantes eventuais percebemos, que pouco sabem mesmo sobre cujo candidato defendem a bandeira. Não sabem qual a ideologia do partido (embora, confesso, as ideologias partidárias em nosso país não se diferem muito mesmo), muito menos o histórico político do candidato escolhido. Estão mais ligados a tal indivíduo devido a algum grau de simpatia, seja ela resultado de parentesco, favores, indicação de alguém ou outros tantos fatores. 

O brasileiro não é ativo politicamente - pelo menos nos últimos tempos (com raras exceções, como em toda regra que se preze) temos visto uma acomodação por parte da sociedade brasileira, e pior, um comodismo e a falta de interesse que se abateu sobre os eleitores brasileiros. Não pretendo aqui ponderar sobre o momento econômico que pode de alguma maneira ter gerado tal comodismo, mas sim acerca de como o brasileiro médio trata a eleição.

Brasileiro não tem interesse na política, ele não gosta. Mas ele gosta de ganhar, de vencer, independente de qual esfera estejamos falando. Podemos fazer uma analogia com o esporte. Poucos esportes olímpicos no Brasil têm patrocínio do governo ou da iniciativa privada. Muitas modalidades sofrem com a falta de patrocínio justamente pela “falta de vitórias”, por não conseguirem competir com atletas de outras nações, onde há o incentivo público e privado. Ora, se não há incentivo e investimento, logo é um tanto lógico que o desenvolvimento de determinada atividade não será realizada em sua plenitude. Após esta breve elucidação, podemos voltar ao foco central deste artigo. Retomando a idéia de que o brasileiro adora vencer, podemos pegar o exemplo do esporte olímpico para uma demonstração, já que em 2016 os Jogos Olímpicos serão realizados em solo carioca. Nunca houve o investimento necessário nesse campo, porém, ao contrário, há a cobrança para que os atletas “não façam feio”, por parte dos órgãos governamentais que cuidam do Ministério do Esporte. Nesse caso, não há tanta cobrança popular. Mas podemos elucidar melhor o exemplo da “gana por vitória” quando olhamos atenta e criticamente para o esporte mais popular da Terra.

Temos a crença de que o Brasil é o país do futebol, de que esse esporte é adorado pelos que habitam esse país. Ledo engano. Aqui, podemos verificar, mais uma vez e em outra esfera, que o brasileiro gosta mesmo é de vencer. Ele adora seu time, seu selecionado nacional, quando este é vencedor de alguma competição. Quando se depara com a derrota, logo faz questão de encontrar e apontar culpados para o fato, tais como fatores internos ou externos. Pode ser desde um erro do treinador a algum de um jogador específico. De erro do árbitro ou deslealdade do adversário. Atos da torcida adversária ou até mesmo (pasmem) influência dos seus próprios aficionados. Sempre há uma desculpa que justifica o fato de a vitória não ter sido conquistada. Sempre há um culpado que é execrado, como se o esporte fosse encarado como uma guerra, onde o derrotado terá seu povo escravizado pelo vencedor. Patético, para que a crítica não se torne tão extensa. 

Após fazer uso de uma prática popular e que envolve uma política populista para esclarecer um aspecto de nossa sociedade, permitimo-nos voltar para o objeto central desta pauta, o posicionamento político em tempos eleitorais. Observando os programas eleitorais na televisão e campanhas em algumas cidades, percebe-se que há um movimento de pessoas nos partidos como se fosse uma torcida organizada de alguma agremiação esportiva. Não há um diálogo político com apresentação de propostas voltadas ao meio em que determinado candidato está inserido. A justificativa mais utilizada pelos partidários de candidato A ou B é a de que “o meu é melhor”, ou ainda “mais honesto”.

Porém, volto a ressaltar, quando é levantado algum questionamento sobre o passado político do indivíduo defendido, não há uma resposta satisfatória, sendo que na maioria das vezes, são argumentos chulos que deixam implícito de que o apoio existe se esperando algum retorno individual, caso o candidato seja eleito. Retorno esse que pode ser desde “presentes”, como combustível para veículos (sim, isso realmente acontece), valores em dinheiro, e até uma iniciação na carreira política, com a indicação para algum cargo, tal como assessor. Muitos começam na política assim, fato que nos remete a Max Weber, quando aborta o indivíduo que faz da política um meio de vida, uma profissão. Ao invés de viver para a política, os políticos brasileiros cada vez mais estão vivendo da política, e pior, fazendo carreira e escola. Claros são os casos de estados que mais parecem capitanias hereditárias, uma vez que estão sob posse das mesmas famílias há gerações.

Reitera-se aqui de que o objeto de discussão, isso é, as pessoas apontadas neste artigo, são aquelas que trabalham e defendem de maneira frenética um candidato e se encaixam no perfil destacado. Não se refere ao eleitor padrão, que na maioria das vezes também mostra-se tão pouco interessado no que acontece politicamente em seu país. 

Ainda, é digno de destaque, a parte de acusações de todas as alas, elevando a disputa política nos dias atuais a um nível de baixaria que é difícil diferenciar se o que é falado se trata de piada ou acusação séria. Panfletos com supostos atos ilícitos, malas direta espalhadas pela internet, acusações e confrontos de todos os tipos. Tudo parece ser permitido durante cerca dos dois meses que precedem as eleições. Porém, com a mesma avidez com que as disputas são travadas, desaparecem no dia seguinte à contagem dos votos que determina a vitória de uns e derrota de outros. Nos dias que se seguem, como no exemplo citado logo acima, sobram desculpas e caça aos culpados, assim como acusações acaloradas de manobras ilegais durante todo processo eleitoral. Calor esse, que se dissipará nos dias seguintes, quando todos voltam a cuidar das próprias vidas. 

Mas o que acontece com o engajamento político? A vontade de mudar a situação atual, de eleger aquele que será o melhor representante para aquela comunidade? A fúria eleitoral passa e todos voltam a se concentrar em seu individualismo, como também o foi durante as campanhas eleitorais, porém agora, de maneira mais explícita.

Pretende-se aqui chamar a atenção para a falta de interesse político pelo qual passamos, uma vez que todos costumam colocar a culpa das mazelas que pairam sobre nós nesses mesmos políticos, que para muitos são como lendas folclóricas, ninguém vê ou sabe se realmente existe, e acaba exercendo seu voto apenas por uma obrigação imposta pelo Estado.

Enquanto não houver uma educação com direcionamento para que as pessoas tenham uma participação política (além de apenas votar para não pagar uma pequena multa), e principalmente, consciência política, as disputas políticas brasileiras não passarão de uma camuflada competição futebolística. E a cúpula política continua, independente da sigla do partido, distribuído o clássico e clichê pão e circo à população, que tristemente, parece cada vez mais se contentar com isso.

Um comentário:

  1. Infelizmente concordo com o texto. Por diversos fatores o brasileiro não tem interesse político se não houve algum ganho pessoal. Depois que o termo "não gosto de política" se tornou comum as pessoas, os interesses em grupo foram deixados para trás.

    Fico incomodada com tanta gente dizendo que está errado, que é corrupto, devemos fazer alguma coisa... mas ao mesmo tempo encaram como normal e não movem nada para mudanças. Simplesmente não consigo entender isso.

    Muito bom o texto, André! ;)

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