por Lucas Ribeiro
A venda de Montillo para
o Santos derrubou um pilar que vinha sendo mantido, desde finais de 2011, no
Cruzeiro: a questão do argentino ser uma "propriedade" do clube, ao
menos enquanto durasse seu contrato com os belo-horizontinos. O principal artífice
dessa nova política, por sua vez, é o advogado Gilvan de Pinho Tavares, que
assumiu a presidência cruzeirense na mesma época em que o seu camisa 10
começava a ser cobiçado pelos gigantes paulistas.
Gilvan, apesar de
indicado por Zezé Perrella como seu sucessor na direção do clube, adotou um
estilo de gestão que vai de contramão ao do atual senador. O novo comandante
decidiu que, ao invés de vender ídolos, o melhor a se fazer era mantê-los. Um
programa de sócio-torcedor, para tanto, entrou em vigência no começo do ano
passado. A intenção era, com Montillo em campo, atrair mais adeptos ao estádio.
Contudo, a irregular campanha cruzeirense no Brasileirão e a reforma do
Mineirão foram fatores que acabaram impotencializando o sucesso da empreitada
em 2012.
Perrella, ao contrário,
foi responsável pela transformação do Cruzeiro em "balcão de
negócios". Extremamente longevo no cargo, que ocupava desde 1995, a
quantidade de conquistas somadas foi diretamente proporcional à saída de
craques de Minas Gerais. Apesar de ter levantado, apenas como exemplos, um
inédito Brasileirão, em um 2003 no qual o time, ao vencer a Tríplice Coroa, foi
imbatível, e o bi da Libertadores, jogadores fortemente identificados com a
torcida eram, na primeira oportunidade, vendidos a quem oferecesse mais
dinheiro. Nem a crise que afetou a Europa a partir de 2008 conseguiu saciar a
sua "fome". Após tal
arrefecimento econômico, o clube ainda lucraria com seus expoentes Marcelo
Moreno, Ramires, e Wágner, que embarcaram, respectivamente, para a Ucrânia,
para Portugal e para a Rússia.
Alex, Sorín, Ricardinho,
Geovani, entre outros, entraram para a galeria de ídolos que muito
provavelmente não permaneceram mais tempo fazendo a alegria dos cruzeirenses
porque foram preteridos por dólares, ienes e euros em grandes quantidades.
Todos sabemos que o futebol é, hoje, assim. O Capitalismo, logo o anseio pelo
equilíbrio financeiro, passou a ditar o ritmo e, senão impossível, é improvável
que uma agremiação, ainda mais brasileira, possa se manter sem vender ao menos
um atleta de destaque por ano, apenas para tentar parafrasear Perrella nas suas
explicações de que porque havia negociado determinado futebolista.
Mas nunca, em sua gestão,
se procurou um equilíbrio entre clube e jogador, na proporção em que, mesmo
inviabilizado por outros motivos, tentou seu sucessor. No caso Montillo só houve
uma permanência mais duradoura do argentino, que atuou em seu primeiro clube
tupiniquim entre 2010 e 2012, porque foram buscadas, através de promoções
visando à venda de ingressos e, consequentemente, à atração de aficcionados aos
gramados, outras maneiras de se explorar sua imagem.
Apesar de ter recebido um
valor menor do que esperava e do que já recebera de propostas, 6 milhões de
euros, especula a imprensa, e mais o volante Henrique, que fora negociado em
2011 nos moldes "perrelianos", a resistência de Gilvan é louvável,
Gilvan este responsável por, com pouco dinheiro em caixa, ter obtido bons
reforços (até agora, o ex-santista e Diego Souza são os de maior destaque) para
a temporada que se inicia. Quem sabe, se há longínquos 17 anos os cruzeirenses
não tivessem entrado nesta mesma rota, o clube não estivesse mais estável...
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