sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Gilvan, o homem que quase barrou Montillo no Santos


por Lucas Ribeiro

A venda de Montillo para o Santos derrubou um pilar que vinha sendo mantido, desde finais de 2011, no Cruzeiro: a questão do argentino ser uma "propriedade" do clube, ao menos enquanto durasse seu contrato com os belo-horizontinos. O principal artífice dessa nova política, por sua vez, é o advogado Gilvan de Pinho Tavares, que assumiu a presidência cruzeirense na mesma época em que o seu camisa 10 começava a ser cobiçado pelos gigantes paulistas.

Gilvan, apesar de indicado por Zezé Perrella como seu sucessor na direção do clube, adotou um estilo de gestão que vai de contramão ao do atual senador. O novo comandante decidiu que, ao invés de vender ídolos, o melhor a se fazer era mantê-los. Um programa de sócio-torcedor, para tanto, entrou em vigência no começo do ano passado. A intenção era, com Montillo em campo, atrair mais adeptos ao estádio. Contudo, a irregular campanha cruzeirense no Brasileirão e a reforma do Mineirão foram fatores que acabaram impotencializando o sucesso da empreitada em 2012. 

Perrella, ao contrário, foi responsável pela transformação do Cruzeiro em "balcão de negócios". Extremamente longevo no cargo, que ocupava desde 1995, a quantidade de conquistas somadas foi diretamente proporcional à saída de craques de Minas Gerais. Apesar de ter levantado, apenas como exemplos, um inédito Brasileirão, em um 2003 no qual o time, ao vencer a Tríplice Coroa, foi imbatível, e o bi da Libertadores, jogadores fortemente identificados com a torcida eram, na primeira oportunidade, vendidos a quem oferecesse mais dinheiro. Nem a crise que afetou a Europa a partir de 2008 conseguiu saciar a sua  "fome". Após tal arrefecimento econômico, o clube ainda lucraria com seus expoentes Marcelo Moreno, Ramires, e Wágner, que embarcaram, respectivamente, para a Ucrânia, para Portugal e para a Rússia.

Alex, Sorín, Ricardinho, Geovani, entre outros, entraram para a galeria de ídolos que muito provavelmente não permaneceram mais tempo fazendo a alegria dos cruzeirenses porque foram preteridos por dólares, ienes e euros em grandes quantidades. Todos sabemos que o futebol é, hoje, assim. O Capitalismo, logo o anseio pelo equilíbrio financeiro, passou a ditar o ritmo e, senão impossível, é improvável que uma agremiação, ainda mais brasileira, possa se manter sem vender ao menos um atleta de destaque por ano, apenas para tentar parafrasear Perrella nas suas explicações de que porque havia negociado determinado futebolista.

Mas nunca, em sua gestão, se procurou um equilíbrio entre clube e jogador, na proporção em que, mesmo inviabilizado por outros motivos, tentou seu sucessor. No caso Montillo só houve uma permanência mais duradoura do argentino, que atuou em seu primeiro clube tupiniquim entre 2010 e 2012, porque foram buscadas, através de promoções visando à venda de ingressos e, consequentemente, à atração de aficcionados aos gramados, outras maneiras de se explorar sua imagem.

Apesar de ter recebido um valor menor do que esperava e do que já recebera de propostas, 6 milhões de euros, especula a imprensa, e mais o volante Henrique, que fora negociado em 2011 nos moldes "perrelianos", a resistência de Gilvan é louvável, Gilvan este responsável por, com pouco dinheiro em caixa, ter obtido bons reforços (até agora, o ex-santista e Diego Souza são os de maior destaque) para a temporada que se inicia. Quem sabe, se há longínquos 17 anos os cruzeirenses não tivessem entrado nesta mesma rota, o clube não estivesse mais estável...

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