quinta-feira, 21 de junho de 2012

As voltas que o mundo dá e os males que vêm para o bem

por Lucas Ribeiro

Ontem foi um dos dias mais alegres para a nação corintiana. O alvinegro paulistano, depois de empatar com  outro alvinegro, o santista, conquistou uma das duas vagas à final da Libertadores de 2012. O primeiro jogo, por sua vez, é a síntese da capacidade de jogo corintiana: sair de trás rapidamente, agredir o quanto antes e já, assim que a bola fica sob a posse do adversário, se armar para, de maneira cooperativa, marcar. No segundo, porém, Tite demonstrou mais uma vez o excesso de seu zelo pela destruição das jogadas do adversário, ao armar um time muito retrancado jogando em pleno caldeirão preto-e-branco, o magistral estádio do Pacaembu. Mesmo assim, com muito sofrimento, a tônica de toda a conquista do clube, a classificação veio. 

Como diz o excelente jornalista e pesquisador Celso Unzelte, o título do Paulistão de 77 representa e, mesmo se o título sul-americano vier, ainda representará o jogo mais importante da Timão. Afinal, naquele tempo, que gerou a saída praticamente escorraçada de Rivellino do clube, que levou a diretoria a procurar pelo Parque São Jorge inteiro o sapo enterrado, tudo isso por causa de 23 anos de jejum, qualquer título que viesse seria épico, até mesmo se fosse o velho e romântico Torneio Início. 

Mas é engraçado como em menos de uma década o mundo da voltas: a quarta-feira do futebol também presenciou a eliminação do São Paulo na Copa do Brasil. O tricolor paulista, que venceu a primeira partida, no Morumbi, com um magro 1 a 0, não foi páreo para o Coritiba, que, no Couto Pereira, se aproveitou da fragilidade defensiva (e principalmente emocional) dos paulistas e marcou o dobro de gols que o rival marcara, sem, no entanto, tomar nenhum. Se as manchetes dos diários esportivos do país hoje fossem do tipo "preencha as lacunas abaixo", certamente pelos desempenhos de ambos os clubes há cinco, seis ou sete anos haveria uma inversão entre são-paulinos e corintianos na escrita de tais sentenças.

O polêmico Juvenal Juvêncio é o "Alberto Dualib", presidente alvinegro naquele período, da vez. Enquanto que a diretoria do time de Itaquera, livre dos deslizes verbais pouco profissionais do ex-presidente Andrés Sanches, parece mais aquela centrada da época do já falecido ex-mandatário tricolor Marcelo Portugal Gouveia. Enquanto o São Paulo aparecia exclusivamente nas páginas esportivas, colecionando Campeonatos Brasileiros, Libertadores e Mundial, o Corinthians também realizava suas aparições nas policiais, depois de envolvido na malfadada parceria com a empresa MSI, sob responsabilidade dos suspeitíssimos Kia Joorabchian e Boris Berezovski. 

Para cada declaração arrogante, e consequentemente infeliz, que JJ dá, se baseando em conquistas que pararam de chegar há quatro anos incompletos, fica para o são-paulino a saudade de, num mercado ainda pouco estruturado ante a novidade da não mais existência do elemento do passe, um time montado quase a custo zero e que engordou por algum tempo a sala de troféus do Morumbi. No Parque São Jorge, entretanto, o ambiente, mais que merecidamente, é de festa. Se em 2007 a Fiel era obrigada a engolir, por exemplo, Fábio Ferreira, Zelão, Kadu e cia. limitada, hoje o time vai poder, finalmente, decidir a competição que vinha se tornando um fardo na sua vida. 

Mesmo que 77 ainda mantenha sua aura, e que a Libertadores, se levantada, não tenha o mesmo peso, podemos concluir que o mundo dá voltas. E que há males que vêm para o bem. Só espero que, assim como os corintianos aprenderam com a "versão original" Dualib, o São Paulo aprenda com, e se livre o quanto antes de, Juvenal. E quem sabe só assim, para o bem do futebol, possamos ver, em breve, uma semifinal ou até mesmo uma final dessa competição abrigando os dois times mais populares do estado mais rico do país.

Nenhum comentário:

Postar um comentário