sábado, 23 de junho de 2012

Quatro décadas de Zidane

por André Gobi e Lucas Ribeiro


Zinedine Zidane. Esse é o nome do descendente de argelinos que conquistou o coração dos ex-colonizadores da terra de seus antepassados com um futebol, digamos, suave. Fosse com a camisa 21 da Juventus, com a 5 do Real Madri ou com a clássica 10 na seleção, vê-lo jogar parecia fácil. Seus passes, seus dribles, sua cabeça erguida... tudo, mas tudo mesmo, que Zizou fazia dava a mesma sensação de ver um beija-flor em voo.

O craque se profissionalizou no Cannes, mas despontou para o futebol internacional atuando pelo Bordeaux. Numa das mais tradicionais cidades vitivinícolas do planeta, Zidane conquistou uma Copa Intertoto e só não levantou a da UEFA porque, na final, o sonho foi interrompido pelo poderosíssimo Bayern de Munique, de Matthaus, Klinsmann e cia. Na temporada seguinte, a de 1996/97, já estava na tradicional Juventus de Turim, onde receberia o ingresso para entrar no hall dos gênios da história do futebol. 

Logo nos primeiros seis meses de Itália, Zizou realizaria duas façanhas, sendo uma delas um sonho já antigo: a conquista do Campeonato Mundial, sobre o argentino River Plate, e o principal, conseguir a camisa de seu maior ídolo no esporte, o uruguaio Enzo Francescoli, que atuava pelo rival sul-americano. A admiração pelo ex-craque do selecionado celeste é tão grande que um dos filhos do francês é seu xará. 

Pela seleção, Zinedine capitanearia a reconstrução de um time abalado desde a eliminação para a Copa de 1994, quando, em pleno Parc des Princes, a Bulgária, no último minuto, tiraria a vaga francesa do voo para os EUA. Escolhida para sediar o Mundial seguinte, o de 1998, a obrigação francesa era fazer bonito. E o fez. Com dois gols na final diante do Brasil, Zidane colocaria a França, finalmente, no patamar de campeã do mundo. 

Dois anos depois, repetindo 1984, les bleus conseguiriam o título europeu e seriam o selecionado mais poderoso na virada do século. A partir daí, a 10 francesa não seria mais só a camisa de Platini, o gênio do título da década de 1980 e que, coincidentemente, brilhou na Juve, mas também a de Zizou. Em 2001, porém, a Itália teve de assistir a sua transferência, de aproximadamente 75 milhões de euros, ao Real Madri, que começava a montar o elenco dos galacticos

Primeira temporada, Champions League conquistada. Numa dura final contra o Bayer Leverkusen, Zidane, na entrada da área, vira um espetacular voleio e marca um golaço, que define o jogo a favor dos merengues. Sua imagem, já intocável, nem foi abalada depois dos fiascos franceses na Copa de 2002, quando a seleção caiu na primeira fase, e na Euro de 2004, eliminada nas quartas-de-final diante da Grécia.

Para o Mundial de 2006, seguindo as campanhas anteriores, a França chegaria desacreditada à Alemanha. Os empates diante da Suíça e da Coreia do Sul, nas duas primeiras rodadas, pareciam consoantes com a opinião pública. A vaga nas oitavas só foi conquistada depois da vitória sobre o frágil Togo, no último jogo da fase de grupos. 

Aí entra em ação Zidane: ele simplesmente destruiu os favoritos Espanha e Brasil e marcou de pênalti na semifinal, contra Portugal, e na final, contra a Itália. Contudo, a consistência italiana, encabeçada pela fantástica Copa de Cannavaro, foi mais decisiva e deu o tetra aos tifosi. Na final deste Mundial, um fato curioso chamou a atenção.

Aos 5 minutos do segundo tempo da prorrogação, Zizou dispara uma cabeçada no peito do defensor italiano Materazzi, revidando os insultos ouvidos deste. Este ato culminou em sua expulsão de campo. Fora a primeira expulsão na carreira do jogador francês, que mesmo assim voltou para a França sendo celebrado como herói. Interessante é o fato de Zidane ter usado a cabeça para agredir o italiano, mantendo intactos pés e mãos. Os pés de Zidane, esses foram feitos apenas para proporcionar espetáculos aos que o admiraram, sendo estes membros poupados pelo próprio gênio desse episódio isolado em sua mais que brilhante carreira .Mesmo assim, para uma equipe que jogou sem brilho até o Mundial, o vice-campeonato pareceu de bom tamanho.

Só não ficou da dimensão de Zidane. Já com 34 anos, o craque decidiu largar a carreira no auge, deixando na mente do público suas espetaculares jogadas naquela competição. E por que tratá-lo como francês ou  como argelino? Zizou encantou não só estes, mas o mundo. Parabéns!


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